5 de dez. de 2009

A Saúde das Crianças de Chernobyl Decorridos Onze Anos da Catástrofe





A Saúde das Crianças de Chernobyl Decorridos Onze Anos da Catástrofe A Saúde das Crianças de Chernobyl Decorridos Onze Anos da Catástrofe

O acidente da usina nuclear de Chernobyl aconteceu em 1986, iniciando-se em abril do referido ano. Este acidente foi um acidente nuclear de incomensurável dimensão, gerando conseqüências irreparáveis, resultando, primeiramente, na retirada de aproximadamente 120 mil indivíduos de uma região correspondente a uma zona de trinta quilômetros ao redor da usina.

Chernobyl localiza-se na região nordeste da Ucrânia, aproximadamente a 90 quilômetros ao norte de Kiev. Quando ocorreu o acidente, uma zona de 30 quilômetros que cerca a usina foi evacuada permanentemente, embora os reatores não danificados ainda estivessem em funcionamento. Esta zona evacuada compreendeu diversos vilarejos e incluiu a cidade de Pripyat, construída com a finalidade de ser a moradia dos trabalhadores da usina e suas famílias. Muitos indivíduos que foram obrigados a deixar Pripyat, se mudaram para Kiev, fazendo desta, sua moradia provisória que, com o decorrer dos anos, tornou-se a moradia definitiva destas pessoas.

Os impactos secundários do acidente radioativo incluíram: evacuação desordenada da região; aumento pronunciado do número de abortos; dificuldade na obtenção de documentos que permitissem a retirada dos indivíduos que viviam nas cidades próximas à usina e nas cidades vizinhas (área de contaminação radioativa) e a sua aceitação em outras regiões; conflitos entre as pessoas acerca dos subsídios do governo e dos alojamentos; discriminação dos indivíduos, sendo disseminado o sentimento de medo, denominado de "radiofobia" (medo da radiação); por fim, os cuidados médicos prestados à população eram insuficientes e inadequados.

Assim como outros desastres tóxicos e radiativos, o acidente em Chernobyl proporcionou a criação de uma subpopulação que vive ameaçada, seja por doenças ou discriminação. Uma das conseqüências estabelecidas pelo acidente da usina nuclear foi o aumento progressivo dos casos de câncer da glândulatireóide em indivíduos jovens, particularmente em crianças, desde as que ainda estavam intra-útero até dois anos de idade, na época do acidente.

Um estudo realizado em 1997 e publicado na revista Arch Gen Psychiatry, concluiu que, dada à experiência estressante vivida pelas famílias que foram retiradas da área acometida, pequena diferença na saúde e bem-estar psicológico entre as crianças foi encontrada no estudo.

Este foi o primeiro estudo epidemiológico acerca da saúde e bem-estar psicológico das crianças após o acidente da usina nuclear de Chernobyl. Representou uma colaboração entre cientistas independentes de Kiev e uma equipe de pesquisadores dos Estados Unidos.

Anteriormente, os estudos visavam a verificação das conseqüências causadas pela radioatividade sobre os adultos. Estudos sobre o acidente de Hiroshima e de Nagasaki concluíram os efeitos sobre a saúde das pessoas, a ansiedade e somatização gerada, além disso, os efeitos sobre o estado psicológico dos indivíduos, o aumento do número de casos de depressão em um período de dez a vinte anos após o acidente.

Os estudiosos, raramente, têm realizado trabalhos com o objetivo de pesquisar os efeitos do desastre de Chernobyl sobre as crianças, sejam eles psicológicos ou tecnológicos.

Neste estudo, os pesquisadores promoveram uma avaliação das conseqüências do desastre nuclear ocorrido em Chernobyl. Verificaram, especificamente, os efeitos deste acidente sobre as crianças que foram evacuadas da zona de alta contaminação, localizada nas redondezas da usina, sendo removidas para Kiev.

Os pesquisadores objetivaram a determinação da saúde e bem-estar das crianças que foram retiradas das proximidades da usina, de regiões contaminadas, indo para Kiev, em relação à saúde e bem-estar das crianças que não entraram em contato com a radiação, que habitam e estudam em Kiev.

Foram avaliadas 600 crianças, sendo trezentas crianças, com idade variando entre dez a doze anos. As crianças foram estudadas decorridos onze anos do desastre nuclear e, na época do acidente, ou estavam sendo geradas por suas mães, ou eram bebês. Residiam em regiões próximas a Chernobyl e, na época do estudo, residiam em Kiev. Estas compreendem o grupo das crianças denominadas no estudo de "evacuees" (evacuadas). As outras trezentas crianças deste estudo são crianças que nunca viveram em uma área contaminada por radiação nuclear, que compreendem o grupo das crianças "classmates" (colegas de aula).

Os dados obtidos foram respondidos pelas crianças, pelas mães e professores, usando um padrão de respostas que avalia o bem-estar, a saúde e o risco de doenças psicológicas (psicopatologias) da infância. Foram realizados, também, exames clínicos e exames de sangue nas crianças estudadas.

Os pesquisadores verificaram que, onze anos após o desastre nuclear, as crianças que eram bebês quando houve a explosão permaneceram com sua saúde similar à saúde de seus colegas de classe. Embora os achados dos exames clínicos e laboratoriais realizados nos dois grupos de crianças estudadas fossem semelhantes, as mães das crianças que foram retiradas da zona de perigo (radiação), relataram que estas crianças apresentaram mais sintomas somáticos. O estresse de Chernobyl foi relacionado significativamente a estas percepções das mães dos pacientes.

Resultados

No presente estudo, verificou-se que os dois grupos de crianças participantes da pesquisa se mostraram concordante em relação à sua saúde mental, exceto pelos sintomas como a ansiedade gerada pela contaminação causada pelo acidente nuclear. A avaliação dos dados respondidos pelas mães dos pacientes evidenciou uma preocupação em relação ao seu comportamento e bem-estar, em relação às crianças que não tiveram nenhum contato com a radiação, seja direta ou indiretamente. Os fatores de risco mais freqüentemente observados foram diretamente relacionados à radiação liberada pela usina como, principalmente, a ansiedade.

Ainda, as crianças que entraram em contato, direto ou não com a radiação, segundo os estudiosos, possuem alguns fatores de proteção à sua saúde. O trauma vivenciado pelas mães foi refletido no bem-estar das crianças, particularmente, sintomas somáticos, porém, sem maiores conseqüências.

Este estudo apresentou diversas limitações. Os estudiosos não determinaram o risco de exposição real à radiação, devido à dificuldade de estimar a dose de radiação liberada no acidente. Os dados foram obtidos após onze anos do desastre, não havendo a clareza em se definir se as diferenças existiram antes do desastre ou se os efeitos emergirão com o envelhecimento destas crianças. As famílias residentes em Kiev não eram representativas de todos os indivíduos que residiam em uma zona de 30 quilômetros da usina de Chernobyl, sendo feita uma estimativa neste estudo. A catástrofe de Chernobyl desencadeou uma série de experiências aterrorizantes durante a evacuação da área afetada, como conflitos para a obtenção de documentos para residirem em Kiev e para obtenção de benefícios do governo; estigma social (discriminação); perda irreversível da moradia, dos pertences e do estilo de vida. Finalmente, como este foi um estudo pioneiro em Kiev, os pesquisadores tiveram dificuldades devido à falta de experiência em estudos epidemiológicos na referida região.

Os pesquisadores concluíram, apesar das limitações deste estudo que, embora a radiação e o poder nuclear, possam despertar o medo e a ansiedade profunda, sobretudo em adultos, depois de decorridos onze anos do acidente nuclear de Chernobyl, o trauma não foi transmitido às crianças, quando suas famílias foram acometidas pela contaminação e tiveram que sair das áreas afetadas, indo para Kiev.

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