16 de abr. de 2010

sindrome de automutilação




Automutilação é a destruição ou a alteração deliberadade tecidos orgânicos sem intenção suicida consciente (Feldman, 1988). Apresenta-se em graus variados, desde lesões leves, como arranhar a pele com as unhas, queimar-se com pontas de cigarros, passando a lesões moderadas, como cortes superficiais em braços, até outras muito graves, como a auto-enucleação (MacLean e Robertson, 1976) e a autocastração (Greilsheimer e Groves, 1979). Outras formas graves de automutilação encontradas mais raramente são a auto-amputação de membros (como mãos ou dedos) (Schlozman, 1998), a introdução de corpos estranhos no organismo (agulhas) (Bharath et al., 1999) e a amputação dos lobos da orelha (Alroe e Gunda, 1995).


Modos extremos, bizarros e muito graves de automutilação estão associados principalmente a quadros psicóticos, em especial pacientes esquizofrênicos em estados delirante-alucinatórios agudos. São descritos também nas psicoses tóxicas produzidas por alucinógenos, na intoxicação aguda por álcool, nos transtornos de identidade sexual, nos transtornos afetivos e em transtornos de personalidade. São considerados raros na literatura, apesar de sua prevalência ser provavelmente subestimada (Favazza e Conteiro, 1988).

Segundo Martin e Gattaz (1991), até 1986 havia 57 casos de automutilação genital descritos na literatura de língua inglesa em homens. Outros casos foram relatados posteriormente (Myers e Nguyen, 2001) e (Lima et al., 2005).

Greilsheimer e Groves (1979) identificaram alguns grupos de pacientes sob maior risco de automutilação genital. O primeiro são os pacientes psicóticos, com maior risco para os pacientes jovens agudamente psicóticos com temores em relação à sexualidade, aqueles com depressão psicótica ou doença somática grave e os que se tornam violentos durante intoxicação pelo álcool. O segundo grupo são os pacientes não psicóticos, especialmente aqueles com transtornos de personalidade, e os transexuais que tentam realizar a cirurgia de mudança de sexo por conta própria. O terceiro grupo são os indivíduos influenciados por fatores socioculturais, como rituais de auto-imolação em alguns grupos minoritários islâmicos e de auto-suplício em grupos católicos como forma de purificação. Clark (1981) adiciona ainda que indivíduos que apresentam interpretações literais e concretas de passagens bíblicas (como em Mateus 19:11 - "... há alguns eunucos, que foram feitos eunucos pelos homens, e há eunucos que foram feitos por eles mesmos para alcançar o Reino de Deus".) (A Bíblia Sagrada, 1997) também estão em maior risco.

Witherspoon et al. (1989), em sua revisão sobre automutilação ocular, referem 85 casos de mutilação ocular grave (auto-enucleação uni ou bilateral; introdução de objetos estranhos nos olhos, de ar ou outras substâncias no globo ocular). A maioria dos pacientes tinha diagnóstico de esquizofrenia com ou sem comorbidade com abuso de substâncias, principalmente álcool. Outros diagnósticos encontrados foram pacientes em fase maníaca e paciente com retardo mental.

Nucci e Dalgalarrondo (2000), em sua série de seis casos de automutilação ocular, referem alguns fatores associados a esse tipo de automutilação. Entre eles, destacam-se os pacientes jovens, do sexo masculino, com longo tempo de evolução da doença, agudamente psicótico no momento do ato, com antecedentes de automutilação ou tentativas de suicídio prévias, delírios e alucinações de conteúdo místico-religioso e, secundariamente, sexual, e, finalmente, o concretismo do pensamento com interpretações literais de passagens bíblicas (por exemplo, Mateus 6:29 - "Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti, pois é melhor que se perca um dos teus membros do que seja todo o teu corpo lançado no inferno.").

A seguir, o relato de um caso pouco usual de um paciente que teve inúmeras automutilações em lábios e dedos de mãos. Obteve-se o consentimento informado do paciente para esse relato. 



Síndrome de West


A Síndrome de West é um tipo raro de epilepsia, chamada de "epilepsia mioclónica". As convulsões que a doença apresenta são chamadas de mioclonias e podem ser de flexão ou de extensão, e afetam geralmente crianças com menos de um ano de idade. São como se, de repente, a criança se assustasse e quisesse agarrar uma bola sobre o seu corpo.
         Os espasmos são diferentes para cada criança. Podem ser tão leves no início que não são notados ou pode-se pensar que originam-se de cólicas. Cada espasmo começa repentinamente e dura menos de alguns segundos. Tipicamente, os braços se distendem e a cabeça pode pender para a frente e os olhos fixam-se em um ponto acima (Tic de SAALAM).
         No início, a criança pode experimentar somente um ou dois espasmos por vez, mas, no decorrer de um período de dias ou semanas, estes evoluem para dúzias de espasmos que ocorrem em intervalos de poucos segundos. As convulsões são de difícil controle, e a criança pode chegar a ter mais de 100 convulsões por dia.
         Cada espasmo é uma crise epiléptica (ataque epiléptico) composta de uma série de movimentos descontrolados, causados por um excesso de atividade elétrica no cérebro.
         Estes ataques foram primeiramente descritos pelo Dr. West (1841) em relação ao seu próprio filho. A Síndrome de West é multifatorial e certos casos pode ter sucetibilidade poligênica ou pode ser completamente ambiental. Algumas crianças podem chorar e/ou gritar antes ou após as convulsões e mostram-se geralmente muito irritadas. O período mais crítico para as convulsões são a hora de dormir ou de acordar, onde a Síndrome apresenta toda a sua face mais cruel.
         Um eletroencefalograma - EEG pode registrar esta atividade de forma segura e indolor. Um EEG em um bebê com espasmos infantis não apresentam os ritmos brandos e regulares que usualmente se apresenta nessa idade. Ao contrário, ocorrem súbitas eclosões de atividades elétricas, algumas de alto potencial e o registro do EEG aparenta estar caótico. Muitas dessas alterações elétricas tornam-se mais marcantes à medida em que a criança adormece. Este padrão é chamado de "Hypsarritmia" (hypsos=altura e rhytmos=ritmo). É um atraso psicomotor, que pode variar do leve ao severo, dependendo da evolução do caso.
          Informamos que, os espasmos infantis causados pela síndrome não possuem uma causa única. Eles surgem como resultado de muitas e diferentes condições. Algumas vezes ocorrem em bebês com desenvolvimento abaixo da média e em relação aos quais já se sabe que são possuidores de condições neurológicas que afetam o desenvolvimento do cérebro.
          Tais condições podem ter seu início antes do nascimento, por volta do tempo que antecede o nascimento ou como resultado de doença nos primeiros meses de vida. Alguns poucos exemplos são:
  • Lisencefalia: Um padrão anormal de desenvolvimento do cérebro começando nos primeiros estágios da gestação.
  • Encefalopatia neonatal: Quando os bebês mostram-se muito doentes imediatamente após o nascimento, como resultado de um insuficiente volume de sangue fornecido ao cérebro durante a gestação ou durante o nascimento.
  • Meningite: Nas primeiras fases de vida.
         Em outras crianças, nenhum problema neurológico será notado até que os espasmos infantis comecem a se manifestar. Testes diagnosticarão condições neurológicas em algumas destas crianças, entretanto, em outras nenhuma causa será detectada, mesmo após os mais variados testes e exames. Nas investigações a tomografia computadorizada - TCC tem detectado patologias em 75 a 90% dos casos de Síndrome de West, entretanto, a ressonância nuclear magnética - RNM tem se mostrado mais sensitiva que a tomografia computadorizada em detectar lesões em pacientes com crises parciais.
    Por ocasião da definição do diagnóstico da SW e sua etiologia, esta pode ser classificada em três categorias:
  • SINTOMÁTICOS: são aqueles casos com causa bem definica (hipóxia neonatal, por exemplo).
  • CRIPTOGÊNICOS: são aqueles com forte suspeitas de causa orgânica, identificados por anormalidades ao exame neurológico, sem êxito em se obter uma etiologia.
  • IDIOPÁTICOS: são os casos em que não se define uma doença de base, estando o desenvolvimento psicomotor algumas vezes normal. Alguns autores consideram casos idiopáticos e criptogênicos como uma mesma categoria.
         As Epilepsias são distúrbios intermitentes das funções do cérebro, frequentemente associados a distúrbios da consciência. O termo é plural pois abrange um enorme grupo de transtornos neurológicos e psiquiátricos. O tipo mais conhecido é o chamado de "Grande Mal", caracterizado por episódios recorrentes de convulsões generalizadas, nas quais o corpo todo estremece numa série de curtos espasmos. Os chamados "ataques" epiléticos variam desde os espasmos, mioclonias, ausências, convulsões febris na infância até os acessos psicomotores em adultos. Atualmente se classificam as convulsões epiléticas em dois grandes grupos: Parciais e Generalizadas.
         Sabemos também que, as epilepsias são mudanças bruscas e repentinas no funcionamento bio-elétrico do cérebro e normalmente comparadas a um "curto circuito" momentâneo que afetam as células nervosas (neurônios), fazendo parte de uma disfunção do Sistema Nervoso Central - SNC. Nos "ataques" ou crises epiléticas podem ocorrer perda de consciência momentânea, acompanhada de distúrbios, tais como: abalos musculares, movimentos bruscos, perda do equilíbrio corporal, alterações dos movimentos e das ações de uma pessoa. Posteriormente, há uma pausa, um repouso devido a exaustão das células nervosas, seguindo um período de confusão mental e/ou sonolência.
AS EPILEPSIAS, ASSIM COMO AS SÍNDROMES RARAS NÃO SÃO CONTAGIOSAS.

         Podem estar associadas a quadros de natureza genética, sendo que 70% dos casos são de causas desconhecidas (sem etiologias). Fatores que podem levar a um quadro epilético:
  • Traumas na cabeça (acidentes automobilísticos, prática de esporte violento, etc.).
  • Doenças neurológicas crônicas, meningites, encefalites virais ou AIDS.
  • Lesões ocorridas no período gestacional, pré, peri ou mesmo pós-natal, que possam afetar o desenvolvimento do cérebro do feto durante a gravidez.
         Em casos extremamente graves (quadros epiléticos parciais complexos) existe a possibilidade de uma intervenção neurocirúrgica. Por ser um tratamento invasivo é necessário uma rigorosa avaliação dos riscos e dos benefícios, pois nem todas as crianças estão aptas a uma cirurgia deste tipo.
         Atualmente, existem experiências sobre a utilização de Marcapassos Cerebrais que ajudam na organização bio-elétrica do Sistema Nervoso Central - SNC.
Tratamento da Síndrome de West com o ACTH (hormônio adrenocorticotrófico)

         Existe uma grande melhora com o uso intensivo do ACTH (hormônio adrenocorticotrófico) no modo injetável como ACTHAR (Corticrotrophin) - de difícil obtenção no Brasil e na América Latina. Esse pode ser um bom tratamento se levado com firmeza a rigorosidade do controle médico com monitoramento cardiopediátrico de rigorosa eficiência, pois sabemos que os corticóides agem, não somente no Sistema Nervoso Central, mas também em todo o organismo e principalmente no sistema imunológico da criança.
         É Importante salientar que esta medicação é somente administrada em casos de Síndrome de West considerados CRIPTOGENÉTICOS e não em casos de espasmos infantis originados de lesões cerebrais.

Síndrome de Borderline, ou Transtorno de Personalidade Limítrofe

Síndrome de Borderline, ou Transtorno de Personalidade Limítrofe é uma expressão utilizada há mais de um século pelos pesquisadores do campo mental, que dela se valem para apontar uma modificação no limite entre aneurose e a psicose ou, como diriam alguns, na linha de demarcação entre a razão e a loucura. A pessoa atingida por esta síndrome apresenta um sério distúrbio psíquico, principalmente na esfera afetiva, no domínio dos impulsos, nas interações com o outro, na sua auto-imagem.

O diagnóstico desta perturbação mental é facilitado pelo próprio transtorno causado pelos sintomas no entorno do paciente, principalmente por atingir os familiares. Normalmente o indivíduo não ultrapassa os limites da normalidade, portanto é raro que ele seja enquadrado em um dos estados emocionais próximos do borderline, tais como a esquizofrenia, a depressão ou o transtorno bipolar.
Esta enfermidade psíquica não é ainda muito conhecida, embora afete indiscriminadamente integrantes das mais diversas classes sociais, pessoas célebres ou anônimas, particularmente as mulheres. Atualmente, o exemplo mais famoso de personalidade borderline é o da cantora Amy Winehouse, que revela em seu quadro dimensões radicais desta Síndrome, especialmente traços de autodestruição – os quais englobam a automutilação, com cortes perpetrados em várias partes do corpo, com a intenção de amenizar as dores emocionais, ameaças e até tentativas de suicídio -, consumo de drogas, intensos arrebatamentos verbais, ataques de agressividade, ilusões e alucinações passageiras, impulsividade desenfreada, sem falar nas constantes alterações de humor, apresentando-se a artista às vezes agitada, em outros momentos totalmente passiva.
Outras emoções despertadas pelo estado borderline incluem tristeza, raiva, vergonha, sentimento de pânico, horror, sensação de vazio e de extrema solidão. A capacidade de obter conhecimento também se encontra comprometida, levando o indivíduo a interpretações diversas sobre o outro, em um instante avaliando-o como um ser bom, logo depois o julgando como uma má pessoa. Além disso, há casos de perda da personalidade e do contato com a realidade. Entre tantos sintomas diversos, o DSMV fixou nove pontos essenciais para que se avalie o distúrbio como Síndrome de Borderline.
A expressão borderline foi utilizada primeiramente em 1884, pelo psiquiatra inglês Hughes, que assim se referia às ocorrências de loucura. Passou-se a usar este termo para diagnosticar sinais muito sérios de neurose. O pesquisador Bleuler julgava os esquizofrênicos como portadores de borderline. Enfim, em 1938, a palavra borderline é oficializada por Stern, que a adota para descrever uma modalidade de ‘hemorragia mental’, a qual ocorre quando se deflagra uma intolerância às frustrações. As pessoas se sentem, então, ressentidas, ultrajadas e emocionalmente atingidas. Grinker, em 1967, realiza pela primeira vez a descrição desta perturbação mental.
Estes pacientes têm intensa dificuldade de se relacionar. Fatores genéticos, abusos sexuais, exposição traumática á violência, são algumas das causas apontadas para a eclosão deste distúrbio, pois provocariam desequilíbrio emocional e comportamentos impulsivos. O reflexo deste problema na vivência social é muito sério, pois há uma grande dificuldade de se relacionar com os portadores desta Síndrome, embora seja necessário amparar e socorrer estas pessoas, principalmente porque o número de suicídios é muito alto, afetando pelo menos 10% dos pacientes.
Tem-se conquistado resultados positivos no tratamento desta perturbação ao se recorrer à psicoterapia, principalmente a cognitiva comportamental. Mas é preciso ser persistente no processo terapêutico, pois esta enfermidade engloba sérios distúrbios de personalidade, os quais deixam o ego vulnerável e passível de diversas quedas, de retorno a um estado de instabilidade.
Fontes:
http://www.fsanet.com.br/site/materia.php?id=607